quinta-feira, 31 de março de 2011



"SRIPAD BHAKTIVEDANTA SUDDHADVAIT MAHARAJA, DISCÍPULO DE SRILA BHAKTIVEDANTA SWAMI PRABHUPADA, TEVE COMO SIKSA GURU SRILA GOUR GOVINDA SWAMI E RECEBEU SANYASI VESA DE SRILA GURUDEVA BHAKTIVEDANTA NARAYAN GOSWAMI MAHARAJA"


Originalmente composto em Fevereiro de 1994 / Atualizado em 2010

por Jayantakrid das (aka Jayanta Krsna das) hoje BV Suddhadvaiti Swami

Introdução

"Uma compreenção fiel"

"Srila Prabhupada, o Acarya Fundador da Iskcon, e o principal expoente da ciência de bhakti yoga na atualidade, por vezes deu uma definição ampla de guru, como significando “pregador”. No entanto, a ideia fundamental dos ensinamentos dele sobre o tema guru-tattva é enfatizar as muito exaltadas qualificações exigidas de um mestre espiritual fidedígno ou sad guru. Ele precisa ser um devoto puro, auto-realizado, uma alma liberada. O ideal é que ele seja um uttama adhikari, um maha-bhagavata.

Vamos ler a instrução de Krishna no Bhagavad-Gita: “Apenas tente conhecer a verdade se aproximando de um mestre espiritual. Questione-o de forma submissa, e preste serviço a ele. A alma auto-realizada pode lhe transmitir conhecimento, pois ela viu a Verdade.”(BG 4.34) No momento presente há diferentes concepções de guru, mas nesse verso, a compreensão correta das qualificações de um mestre spiritual fidedígno é determinada. Ele deve ser auto-realizado, ter visto a Verdade, para que ele possa conceder conhecimento transcendental à seu discípulo. O que é a Verdade? Tattva vastu krsna. Krishna é a Verdade Absoluta, então um vidente da Verdade deve ter visto Krishna.

Se olharmos por outro ângulo, o tattva, a Verdade Absoluta, Advaya Jnana, a substância não-dual, tem três aspectos, Brahman, Paramatama e Bhagavan (SB 1.2.11). Portanto é preciso ser no mínimo uma alma que tenha realizado o Brahman, o que significa estar no estágio liberado ou brahma-bhuta, para que se possa ser aceito como sad guru fidedígno. Isso ocorre no estágio de nistha-quase-ruci no nível de madhyama adhikari. É preciso elevar-se, pelo menos ao estágio de devoto de segunda classe, e assim passar a ser elegível para conhecer a Verdade Absoluta..” (SB 1.2.12) Srila Prabhupada, repetidamente indicou esse estágio como sendo o mínimo aceitável a ser alcançado antes de alguém se tornar um mestre espiritual iniciador, diksa-guru.

Há diferentes graus de mestres espirituais. tais como kanistha adhikari, inaceitável, nistha, dificilmente aceitável, ruci, bom, asakti, melhor, bhava, melhor ainda e nitya-siddha, perfeito. Há grande necessidade de educação em Guru-tattva. A razão mais urgente para que essa educação seja fornecida logo, é ajudar o aspirante espiritual a compreender as implicações limitadoras de aceitar um guru que não seja altamente qualificado. As verdades conclusivas sobre Guru, são muito vastas. (O tema Guru-Tattva é muito vasto) Não há assunto sobre o qual Srila Prabhupada tenha falado mais. É de grande prejuízo à comunidade Vaishnava diminuir a a importância do guru ser altamente qualificado.

Nós julgamos algo através de seus resultados. Falta de qualificação para o status de diksa guru já foi causa de grandes dificuldades, e até mesmo de desastre devastador. Isso é ecoado por todos os lugares nos Shastras, nas escrituras reveladas e no mundo Vaishnava. Se alguém não se encaixa no critério shástrico do que é um guru então ele é no máximo um vartma pradarshaka guru, ou alguém que indica o caminho, mesmo que ele dê iniciação prematuramente.

Os três níveis de devotos são: o devoto de primeira classe (uttama), segunda classe (madhyama), e terceira classe (kanistha) adhikaris. Nós temos que basear nossa compreensão em todos os ensinamentos de Srila Prabhupada, bem como nas escrituras sobre as quais ele ensinava, que declaram que o diksa guru deve indubitavelmente ser um devoto puro, um tattva darsi, ou aquele que viu a Verdade. Ele deve ser uma alma auto-realizada e liberada, ou um uttama adhikari. Tal devoto exaltado, desce, ou melhor, ajusta sua visão, a plataforma madhyama para pregar a consciência de Krishna.

É uma concessão que o devoto no nível de madhyama adhikara seja guru, o que para o estágio de kanistha adhikara não é aceitável. É declarado no Harinama Cintamani por Srila Bhaktivinoda Thakura, que deve-se aceitar diksa de um Vaishnava, mas que o estágio de madhyama adhikara marca o início do Vaishnavismo. Um kanistha adhikari é chamado de vaishnava-abhasa, ou Vaishnava aparente.

As qualificações de uma mestre espiritual fidedígno (sad guru)

Há apenas um guru, o adi guru, o preceptor original, Bhagavan Sri Krishna, que, como Sri Guru, assume diferentes formas. Não se pode ser guru só por querer ser um, pela pressão alheia ou por voto popular. Krshna decide quem pode representá-lO e ninguém mais. O Guru ideal é um svarupa sakti pusta parikara, um associado eterno do Senhor. Ele é investido e dotado com a delegação do Senhor de Guru shakti. Svarupa significa “si próprio”.

Krshna investe a Si próprio na pessoa adequada. Srila Prabhupada diz que o guru não é o corpo do guru, mas ele é o princípio personificado do mestre espiritual. “Krshna e seu representante são o mesmo. O mestre espiritual é o princípio, não o corpo.” Então, no guru, há ele, o devoto perfeito, e há a delegação de Krshna. Ele é o guru pois Krishna o escolheu devido ao seu amor puro por Ele, e investiu nele o poder de representá-lO. O senhor dá a Seu devoto puro o poder de distribuir Sua própria misericórdia (seva-kripa-shakti) como quiser, então deve-se estar verdadeiramente conectado a Krshna para ser dotado de poder dessa forma. A misericórdia vem através de uma pessoa que preencha esses requisitos.

O Senhor nos deixa conhecê-lO através da forma de Sri Guru. É dito que, “já que não podemos ver a Superalma, o Paramatma, Ele aparece como devoto liberado.” E, “Embora Eu saiba que meu mestre espiritual é um devoto do Senhor, também sei que ele é uma manifestação do Senhor.” Esse é Sri Guru, e isso deve ser aprendido. Não devemos entender “diksa guru” quando Srila Prabhupada está apenas falando de pregador, e cair numa lógica enganosa, de pensar: se o diksa-guru é um pregador então todos os pregadores por consequência, são qualificados como diksa gurus, sem considerar o adhikara deles, ou, sua elegibilidade como guru.

Suas qualidade exaltadas:

“Em geral, o sintoma de um guru é ser um devoto perfeito, isso é tudo.” (Perguntas perfeitas, Respostas perfeitas) Um guru de conhecimento teórico só pode nos ajudar parcialmente. Ele deve estar firmemente situado na Verdade Absoluta. O melhor devoto é o guru. ”

A menos que seja um devoto puro como se pode ser guru? Mestre espiritual significa representante de Deus, de tal modo, quem pode sê-lo? Ele é o representante de Krishna por ser o servo mais confidencial.” (Carta 23.10.72) Apenas a compainha de um devoto puro induz ao cultivo de bhakti pura, então o Senhor revela Seu próprio tattva, a verdade sobre Si Mesmo, àquelas almas aspirantes que se renderam incondicionalmente aos pés de um niskincana-bhakta, uma alma rendida por completo. Krishna aparece com Sri Gurudeva.

Ele deve prover as necessidades espirituais (CC Madhya 24.330)

Uma alma menos que liberada não deveria aventurar-se na missão de tentar se tornar o mestre espiritual de outra alma condicionada. Isso privará ambos da coisa verdadeira. Se alguém não puder suprir as necessidades listadas abaixo e só imaginar que pode, como os cristãos que apenas imaginam poder dar Cristo aos outros e ainda assim fingem que podem, estará de fato enganando a todos.

Absorção do karma

O que é diksa? O guru dá divya jnana e anula as reações pecaminosas do discípulo. Diyate,ksiyate, algo é dado, algo é tirado; isso é diksa. De acordo com o que? De acordo com a capacidade do guru. Mas diksa não depende das formalidades ou cerimônias. Não acontece da noite para o dia. É um processo em curso.

Se é admitido na escola de diksa. Alguém só é diksa guru, se puder tanto fornecer Jnana quanto libertar seu discípulo do enredamento material.

Como o karma é anulado?

Srila Prabhupada deu o exemplo de um ventilador sendo desligado, então o guru tem de ser um agente devidamente autorizado do Senhor para ser capaz de desconectar o ventilador da tomada, não alguém que tenha se tornado guru por iniciativa própria (Néctar da Devoção, p116) Krishna investe em seus devotos puros bhakti sakti e krpa sakti, a potência de misericórdia. Pela força do guru dotado de poder, o discípulo sincero é abençoado. Assim, praticando de acordo com o divya jnana recebido do guru autorizado e cantando, as reações pecaminosas são subjugadas. O discípulo é protegido pelo guru e isso neutraliza todas as reações pecaminosas. (SBhag 9.9.8)

A seguir há a consideração da rendição do discípulo “Diksa tende a conceder iluminação espiritual abolindo a pecaminosidade. Seu efeito verdadeiro depende do grau de cooperação voluntária da parte do discípulo e portanto não é a mesma para todos os casos… Ela transmite um impulso inicial cuja natureza varia de acordo com a condição do recipiente. “ (Srila Sarasvati Thakura) Quando o discípulo se rende completamente, é liberado de suas reações pecaminosas. Já que a rendição é geralmente parcial, condicional ou artificial, há apenas um alívio parcial para o discípulo.

A iniciação verdadeira portanto, não se dá automaticamente no momento do sacrifício de fogo. Ela é considerada completa ao se alcançar o nível de bhava bhakti. Srila Prabhupada menciona que pode-se até mesmo receber sementes de desejos materiais, karma, atividade fruitiva, e jnana, cultivo de conhecimento voltado para a liberação, no lugar de bhakti-lata-bija, a semente da planta da devoção, se o guru não for satisfeito: (ver CC Madhya 19.152)

Srila Prabhupada explica em “Perguntas perfeitas Respostas perfeitas:”

Syamasundara das: Uma vez você disse que às vezes fica doente ou sente dor por causa das atividades pecaminosas de seus devotos. Essa pode ser a causa das doenças, ocasionalmente ? Srila Prabhupada: Krishna diz: “Vou te liberar de toda reação pecaminosa. Não temas.” Assim Krishna é tão poderoso que Ele pode imediatamente tirar das pessoas seus pecados e endireitá-las. Mas quando uma entidade viva exerce essa função em nome de Krishna, ela também aceita a responsabilidade das atividades pecaminosas de seus devotos.

Portanto, tornar-se guru não é tarefa fácil. Ele tem de tomar todos os venenos e absorvê-los. Então às vezes , por ele não ser Krishna, há algum transtorno. Por esse motivo Caitanya Mahaprabhu proibiu: “Não façam discípulos.” Isso é um fato. O mestre espiritual tem de arcar com a responsabilidade de todas as atividades pecaminosas de seus discípulos. Portanto, fazer discípulos é uma tarefa arriscada, a menos que se tenha a capacidade de assimilar todos os pecados.

Essa idéia também está na Bíblia . Jesus Cristo levou consigo as reações pecaminosas das pessoas e sacrificou sua vida. Essa é a responsabilidade do mestre espiritual. Porque Krishna é Krishna, Ele é apapa-viddha. Ele não pode ser atacado por reações pecaminosas. Mas por ser muito pequena, uma entidade viva está sujeita a essas reações. Grande fogueira, pequena fogueira.

Colocando um objeto grande em uma fogueira pequena, o próprio fogo pode se apagar. Mas se a fogueira é grande, não importa o que se atire nela, a chama continuará a arder. Quando o mestre espiritual está sofrendo, Krishna o salva. Krishna pensa: “Ó , ele aceitou uma responsabilidade tão grande para liberar uma alma caída.” Então Krishna se faz presente… porque o mestre espiritual aceita correr riscos por Ele… De vez em quando há dor, para que os disípulos possam saber: ” Devido às nossas atividades pecaminosas, nosso mestre espiritual está sofrendo ‘”(Perguntas Perfeitas, Respostas Perfeitas)

Então, novamente, é uma questão de estar autorizado. Se, por equívoco, alguém se torna um guru , ele está sujeito a sofrer . O guru verdadeiro tem tanto amor por Krishna, que ele deseja que todos dêem seu amor para Ele, para que o Senhor não fique privado do amor de suas partes integrantes, ou jiva-amsa. Ao mesmoo tempo, porque ele ama Krishna e vê a todos como partes integrantes de Krishna, seu coração sangra de compaixão pelas almas caídas e condicionadas. Esse é o guru. Srila Gour Govinda Maharaja disse, “Guru significa sofrer em nomes das almas condicionadas.” Essa é outra razão para ele ser tão querido por Krishna. Também é mencionado no Srimad Bhagavatam (8.4.15) que o guru tem de ver um pesadelo devido às atividades pecaminosas dos discípulos. E: “Quando o mestre espiritual aceita um discípulo, ele naturalmente aceita suas atividade pecaminosas bem como as reações destas. A menos que ele seja muito poderoso, ele não é capaz de assimilar todas as reações pecaminosas de seus discípulos. Assim, se ele não for poderoso, ele tem de sofrer as consequências, pois é proibido aceitar muitos discípulos.” (CC Madhya 22.118)

Srila Prabhupada também diz numa carta “Ele não é uma pessoa liberada. Ele não pode iniciar ninguém na consciência de Krishna. Para isso é necessário ter a benção especial de autoridades superiores.” (Carta 4.6) Quem são tais autoridades? Guru e Krishna. “Pessoas auto-nomeadas não podem ser gurus. Elas devem ser autorizadas por um guru fidedígno, aí sim se pode ser guru. Ele deve ser autorizado por um superior, e não se auto indicar.” (Aula 31/10/72) “Ninguém pode virar guru sem ser ordenado pelo Supremo “(Aula 12/07/75)

Alguns dizem que o guru pode cair por ficar com o karma do discípulo.

Mas Srila Prabhupada explica de forma diferente a queda de tais “gurus”: ” Se alguém cumpre a ordem de seu guru, não há como cair. Assim que um discípulo tolo tenta passar à frente de seu guru tendo ansiedade para ocupar seu posto, ele imediatamente cai. ” (SBhag 5.12.14) e, “Um guru fidedigno jamais cai. ” (Néctar da Devoção) e “A contaminação por qualidades materiais não pode nem tocá-lo.” e,” Não existe a possibilidade de um devoto de primeira classe cair, nem que ele se misture com não devotos para pregar.” (CC Madhya 22.71) e, “Não se deve imitar o comportamento do uttama-adhikari pois fazendo isso eventualmente nos degradaremos.” (Upadesamrita 5)

Uma pessoa não deve esperar ou fingir que pode erradicar os pecados de outra alma condicionada, quando ela própria não é pura.

Srila Narayana Gosvami Maharaja também diz que o karma é queimado pela poderosa misericórdia do guru e pelo Santo Nome.

Dando Suddha-Nama

“O cantar do Santo Nome não depende de iniciação.” ” Não há necessidade de passar por iniciação , é só vibrar o Santo Nome.” Essas citações do Caitanya Caritamrta parecem indicar que o nível pessoal do guru que dá o mantra não influencia o mantra que é dado. Mas outras citações dão indicações adicionais de que não é esse o caso. A famosa citação :”sampradaya vihina ye…” claramente indica que a potência do mantra tem sim relação com aquele que dá o mantra. Mas os sahajiyas, ou pseudo devotos, pensam que o status do guru ou do discípulo não tem importância, pois o maha-mantra atua por si só.

A questão é que, sem iniciação, o Santo Nome pode levar alguém até o ponto da liberação, mas não outorgará prema. Quando é dito que só de cantar Hare Krishna uma vez, podemos voltar ao Supremo, isso se refere ao cantar puro. No Harinama-Cintamani se explica que o cantar de namaparadha nos outorgará dharma, religiosidade, artha, riqueza material, e kama, prazer sensório; cantando namabhasa obteremos mukti, liberação do enredamento, o que significa que namabhasa cria a plataforma de alcance da liberação, como no caso de Ajamila, mas apenas Suddha-Nama nos concederá prema, amor, a meta derradeira. Sri Caitanya Mahaprabhu ora em seu Siksastakam: ” Ó meu Senhor, você facilitou tanto o acesso a Você através do Seu Santo Nome.” Essa aproximação só é possível através da ponte feita pelo representante puro e favorecido do Senhor.

De acordo com isso portanto, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati escreve: “Devemos buscar o abrigo dos pés de lótus de um orientador espiritual genuíno, que tenha efetivamente compreendido e veja a forma (Svarupa) do Santo Nome. As meras letras que compõem o Nome, namaksara, podem ser encontradas em qualquer lugar ou virem de qualquer pessoa, mas a profunda e desconhecida Verdade por trás dessas letras só pode ser exposta pela graça de um guru verdadeiro, um devoto puro de Krishna. Somente tal graça pode nos proteger das dez ofensas, nos ajudar atravessar o crepúsculo inicial do Nome, namabhasa, e nos guiar até a luz pura do Nama.” (Nama-Bhajan) ” Do contrário, só estaremos pronunciando letras do alfabeto, mas isso não é o nome: namaksara bahir haya nama nahi haya.” (Diálogo 25/02/77)

Srila Prabhupada explica: ” Esse cantar, não o levem na brincadeira. Há uma ciência…. No início, se pode ser liberal, e assim eu fui. De qualquer forma, se vc estiver perto do fogo, se aquecerá, mas há um método para aquecer-se, não podemos rejeitá-lo: ” Porque estou me aquecendo um pouquinho já tenho o suficiente.” Isso é sahajiya…. E se o procedimento é feito por um Vaisnava puro, aí sim podemos ter o benefício completo.” (Diálogo 25/02/77) e, O mantra deve ser recebido através do canal adequado, do contrário não terá efeito.” (Livro de Cartas, pg 1)

O Nome puro é o recurso e propriedade só do puro Vaisnava-guru : O Santo Nome aparece de fato, apenas através do agente autorizado pelo Absoluto, e assim Ele sai do coração desse santo misericordioso entrando pelos ouvidos, passando então para o coração do ouvinte. Do coração, após o cultivo correto dos sentimentos devocionais, sob a orientação desse santo, com suas bençãos, o Santo Nome aparecerá na língua. A língua não pode produzir o Nome (atah sri krishna nama adi…),ele vem por si só, do coração (svayam eva sphuraty adah).

O Nome cantado com namaparadhas não é Krishna. Então, um guru que não tenha, ele mesmo, ultrapassado o nível de namabhasa, não pode outorgar mais do que mukti, o que dizer então daquele que ainda não tenha se livrado das nama-aparadhas. Visto que, sem iniciação, o Santo Nome pode outorgar até a liberação, podemos nos perguntar: “Por que então aceitar iniciação de alguém que não pode dar mais? ” De fato, uma pessoa deve apenas dar siksa (instrução), e não diksa (iniciação), até que tenha alcançado o nível padrão. Se o provável discípulo ainda não encontrou ninguém qualificado, ele deve esperar.

A identificação com o corpo material enfraquece em nistha, e real atração por Krishna começa. Nistha é o fim de kanistha início de madhyama. Os dois estágios fazem fronteira um com o outro, eles se sobrepõem. Dessa forma, nistha é claramente o nível mínimo necessário para que alguém possa iniciar discípulos. Madhyam adhikar começa em nistha. Até lá, ainda se é um kanistha adhikari, sem elegibilidade ou direito (adhikara) de ser um diksa guru. Apenas em nistha plena, ou o estágio liberado , entra-se de fato no mundo de bhakti (mad-bhaktim labhate param). (Algumas autoridades situam o estágio da liberação, brahma-bhuta, ou jivan-mukta, em um nível ainda mais elevado.)

O amor por Krishna só começa a se desenvolver realmente em madhyam-adhikara, como é descrito: em nistha aparece o primeiro sinal de amor, nistha haile upajaya premera taranga. (CC Madhya 22.134) Os anarthas de kama e lobha devem ter sido eliminados por completo (tada-rajas-tamo bhava kama lobhadayas ca ye) e assim a pessoa se estabelece plenamente (sthitam sattve prasidati).O famoso verso ‘vikriditam vraja-vadhu…’ que diz que por ouvir Krishna-gopi-lila alcançamos bhakti pura e nos libertamos da luxúria, se refere especificamente aos últimos indícios restantes de luxúria sutil no coração daquele que alcançou nistha. Srila Visvanatha Cakravarti Thakura dá ênfase à palavra sraddhayanvita e dhira, indicando fé firme, paramarthika sraddha, o marco carecterístico de nistha.

Em nistha, o estágio de fé firme, não há mais oscilação na mente, aviksepa-satatyam, e o nama-bhajan puro começa. Suddha-sattva inicia seu desenvolvimento em nistha. Uma pessoa não pode transmitir Suddha-Nama se ela não tem a qualificação (adhikara) para ser um guru. Como pode algo Puro ser recebido através do impuro? O guru tem de ser, de fato, não diferente de Krishna.

Ele precisa verdadeiramente ser guru. O discípulo aceita o guru como sendo tão bom quanto Deus, então o guru precisa ser tão bom quanto Deus. Lembrem-se: “O cantar, entretanto, deve ser ouvido dos lábios de um devoto puro do Senhor….” “À todos deve ser dada a chance de ouvir o Santo Nome cantado por um Vaisnava puro.” (CC Madhya 22.105) “Seguir os passos das almas liberadas, que são capazes de vibrar o som realmente transcendental, pode nos levar ao estágio mais elevado da devoção.” (CC Adi 2.117)

Levando discípulos aos pés de lótus de Krishna

A razão pela qual o guru deve ser completamente liberado é que apenas tal devoto perfeito pode apresentar Krishna para nós. “O devoto é aceito dentro do círculo íntimo do Senhor atrvés da agência do guru.” (SBhag1.5.39) Então o guru fidedígno pode ns elevar ao nível máximo, enquanto uma alma não liberada, não consegue elevar nem a si mesma à esse nível. A entrada no círculo íntimo de Krishna só é atingida através da misericórdia de um mestre espiritual genuíno, escolhido pelo Senhor. E não: ” Tudo o que posso fazer é levá-lo até Srila Prabhupada.”E mesmo assim, alguém é capaz de fazer isso?

Devemos ter muita cautela, buscando a confirmação de nossas suposições no shastra e no sadhu, de preferência vivo, do contrário caímos em uma situação completamente imaginária, e ficamos sonhandoacordados. Se alguém se considera capaz de entrar em contato com Srila Prabhupada, estar com ele, e de levar seus discípulos até ele, então significa que ele é capaz de entrar no círculo íntimo de Krishna, onde Srila Prabhupada está.

Quando perguntaram à Srila Prabhupada se seria a possível associar-se com ele após sua partida física, ele respondeu que sempre estaria conosco em seus livros, em sua vani. Isso é verdade, e todo o discípulo tem acesso privilegiado a seu guru. Mas Srila Prabhupada também respondeu: “Sim, se você for muito puro.”

Não se deve fazer interpretações equivocadas sobre afirmações como essa: “Se uma pessoa canta suas voltas e segue os quatro princípios regulativos, lhe é garantido o retorno ao Supremo.” E presumir que pode-se fazer declarações parecidas a seus próprios discípulos, sem refletir mais profundamente. Sim, normalmente, se praticamos fielmente, há grande chance de sermos purificados até abandonarmos o corpo, se não tivermos feito muitas acomodações grosseiras e sutis com maya ao longo da vida. E aquele que não estiver livre de anarthas arrisca-se a ser excessivamente queimado ao assumir a posição de guru prematuramente.

Dando Krishna a seus discípulos

Uma vez que Krishna e Seu nome não são diferentes um do outro, isso pode parecer um tanto redundante com relação à questão anterior, mas sabendo que nossa compreensão da não diferença entre o Nama e Nami é mais teórica do que prática, a mesma coisa foi explicada de outra maneira: “Um devoto puro é aquele que atraiu o Senhor com seu amor, e por isso Krishna é incapaz de sair do coração desse devoto.” (SBhag 11.2.55) E de seu coração, o guru, o devoto puro, pode transmitir Krishna, fazendo-O aparecer no coração de seu discípulo, quando este já estiver limpo e livre de toda a contaminação. Então, aquele que conhece Krishna, vê Krishna, tem Krishna amarrado em seu coração pelas cordas do amor e que pode fazer Krishna aparecer, esse sim é um sad-guru. “Sem iniciação de um mestre espiritual fidedígno, a conecção verdadeira com Krishna nunca é estabelecida.”( Néctar da Devoção, introdução)

Essa afirmação não se refere apenas à iniciação numa das sampradayas não fidedígnas. Ela se refere à qualquer pessoa desqualificada.

Dando a Seus Discípulos Realização do Conhecimento Transcendental (divya jnana)

“Deve-se entender plenamente a Suprema Personalidade de Deus. Só então alguém pode ser um mestre espiritual. Diksa na verdade significa iniciar o discípulo com o conhecimento transcendental” (CC Madhya 4.111) Dar divya jnana/diksa não significa certificar-se de que seus discípulos estão lendo os livros de Srila Prabhupada. Srila Jiva Gosvami explica: ” Divya jnana se compõe de conhecimento da forma original do Senhor, e isso é transmitido sob a forma de semente dentro do mantra dado pelo guru junto do conhecimento específico da sua relação com Krishna.” (Bhakti Sandarbha) Se o guru por sua vez não tem realização, não pode haver qualquer transmissão de divya jnana.

E mais, a transmissão de conhecimento teórico, conhecimento sem realização, não pode ser efetiva. Primeiro deve haver realização (bhagavata tattva vijnana) (SBhag 1.2.20) da parte do guru. E a partir disso o conhecimento transcendental poderá ser incutido no coração do discípulo sincero. (divya-jnana hrde prokasita).

Tudo o que os Acharyas e shastras ensinam, deve ser entendido em tattva, em verdade. Mas os devotos neófitos, em sua maioria, apenas rondam pelo plano intelectual ou mental, (apara-vicara). É dito que o arado do Sennhor Balarama é guru vakya, as instruções do guru, que cultivam o terreno árido do coração. Balarama, ou Senhor Nityananda, é o princípio do guru; Gurudeva é a encarnação da potência de misericórdia de Nityananda Rama, por isso ele deve ser um qualificado representante ( dotado de poder) do Senhor, para poder cumprir esse papel, e ser capaz de cultivar o coração do discípulo, tornando-o fértil para que bhakti e a verdadeira atração por Krishna sejam plantadas nele. O próprio guru deve possuir essa atração verdadeira, ruci, para transmití-la. Antes da atração, karshana, que é a raiz do nome Krishna, deve acontecer akarshana: o cultivo.

Destruindo as Dúvidas de Seus Discípulos

O significado do famoso verso “tasmad gurum prapadyetam” diz: O guru fidedígno deve ser nisnatam, profundamente experiente em relação à literatura védica e na compreensão prática da Suprema Personalidade de Deus. Um pretenso guru será incapaz de dissipar as dúvidas de seus discípulos, sendo também incapacitado de levar seus discípulos de volta ao Supremo.” (SBhag 11.3.21) De acordo com Srila Visvanatha Cakravarti Thakura, “Se o guru não é profundamente versado nos shastras e é insuficientemente hábil em explicar seu significados ocultos (tattva vichara), as dúvidas do discípulo não serão eliminadas. Sendo assim o discípulo ficará desestimulado, e é certo que sofrerá da perda de fé se o guru não for capaz de ter percepção espiritual (aparoksa-anubhava), pois qualquer misericórdia que este guru conceder não frutificará direito.” (Comentário sobre o mesmo verso, SB 11.3.21) Na Gita, as dúvidas são comparadas a demônios, e Arjuna pediu a Krishna que aniquilasse essas dúvidas demoníacas. Portanto, é preciso ser um representante autorizado de Krishna para fazê-lo.

Se Alguém Não For Qualificado Como Sad-Guru

Ele pode, mas teoricamente não deveria, ser um diksa guru. Ele pode limitar-se à posição de siksha guru. Se há alguém de calibre superior, não existe necessidade de dar iniciação. Mas nem todos receberão diksha da mesma pessoa, não importa o que se diga, pois Krishna inspira devotos de diferentes mentalidades, níveis de sukrti, piedade acumulada, etc, a se aproximarem de diferentes gurus. Um kanistha adhikari (devoto neófito, de terceira classe) também pode aceitar discípulos, entretanto, se é dito que discípulos de madhyama adhikari (devoto intermediário, de segunda classe)- gurus não podem progredir direito devido à orientação insuficiente, então o que pode ser dito dos discípulos de um guru kanistha?

Porque Prabhupada deu tantos avisos, quando lemos no Upadesamrta, significado do verso 5, que um kanistha também pode aceitar discípulos, podemos concluir que isso se refere principalmente à siksha (instrução) e não diksha (iniciação). Isso não quer dizer que só para poder continuar uma missão, pode-se fabricar gurus de forma artificial na falta de gurus qualificados, nem significa que temos de manufaturar uma nova filosofia.

Agora, é claro que a coisa se dá de acordo com a demanda do discípulo. Se tudo o que ele quer é um guru de uma ou dez rupias…Mas o que é aconselhado? “Se minha mente tomasse a direção de servir outra entidade além daquele que é o melhor dos servos de Krishna, seria impossível encontrar alguém tão tolo quanto eu.” (Srila Sarasvati Thakura). O mesmo conselho é dado por Srila Prabhupada: “Um devoto deve ter o cuidado de aceitar um uttama adhikari como mestre espiritual.” (Upadesamrita 5, significado). Sempre há disponibilidade de tal tipo de guru. É um processo eterno. Não é que tenha existido no passado e cessado de existir agora.

Além disso, devemos entender que não podemos progredir muito bem na direção da meta última, tendo orientação insuficiente. Um guru menos que auto-realizado só pode transmitir a mensagem do Senhor de forma parcial, devido à sua própria falta de conhecimento e realização. Ele não pode transmitir divya jnana. ” O guru, deve ser um representante de Sri Sukadeva Gosvami, como Suta Gosvami.” (SBhag 1.2.12) Satam prasangam mama-virya samvido: “Apenas na companhia de devotos puros, as palavras de Krishna podem ter potência completa.” (SBhag 3.25.25).

Um madhyma-adhikari pode dar a semente de bhakti, enquanto um kanistha adhikari pode dar apenas komala sraddha, uma fé muito fraca. Krishna se tomara krishna dite para, tomara sakati ache: Porque o guru ainda não tem Krishna, o discípulo deve estar ciente de que, por isso, seu guru não pode lhe dar Krishna. Um guru como este deve, misericordiosamente, estimular seus discípulos à procurar por um guru auto-realizado, dando-lhes assim, a chance de receber aquilo que lhes é de direito por serem membros desta sampradaya.

“Um mestre espiritual incapaz de levar seus discípulos ao Supremo deve se encarregar de aconselhá-los a abrigarem-se em alguém que possa. Na verdade, Srila Prabhupada orienta alguém que seja incapaz de levar seus discípulos ao Supremo, a não atuar como guru.” (GBC Artigo “Guru-Ashraya”) E, “Segundo o shastra, o dever do guru é levar seu discípulo ao Supremo. Se ele não for capaz de fazer isso; não deve ser guru.” (SBhag.5.5.18) Srila Prabhupada escreve: ” Se uma pessoa não for de fato livre de todos os apegos materiais, mas ainda assim apresentar-se como muito avançada no serviço devocional, ela estará mentindo. Ninguém ficará feliz de ver tal conduta.” (CC Antya)

Alguém pode achar que tem o dever de dar iniciação, que esse é um perigo a se correr por Srila Prabhupada, pela sociedade e por Krishna, mas “nenhum homem é uma ilha.” Quando um membro veterano se arrisca, isso não afeta apenas a ele, mas também à toda a sociedade e ao mundo, para os quais Srila Prabhupada queria demonstrar o exemplo perfeito. Ele se preocupava muito com isso. O guru deve dar Krishna. A prema-bhakti-sutra (corda do amor puro) está amarrada aos pés de lótus de Krishna, e esta é posta nas mãos do discípulo pelo sad-guru. A não ser que se tenha o poder de passar essa corda adiante, deve-se conectar os discípulos à alguém que possa.

Alguém pode opinar que essas afirmações nao são práticas, mas a verdade é que devemos aceitar tudo o que Srila Prabhupada ensinou com fé firme, mesmo que não saibamos como pôr tudo na prática. Abster-se de iniciar e concentrar-se em treinar seus discípulos , o que no caso de um guru menos qualificado pode significar mandá-los para um siksa guru mais avançado, para treinamento, não é algo degradante. Tal demonstração de humildade, de fato, só faz somar glórias a sua posição de pregador. Em nossa sucessão discipular veneramos a humildade, e não o orgulho.

Guru Tattva 1.4

O Que um Discípulo, ou Aspirante a Discípulo, Deve Fazer?

a) Ele deve aprender guru-tattva, incluisive siksa-guru-tattva,e o que é devoção pura

Educação:

Estudar Guru tattva sistematicamente, começando do programa para bhaktas, o que, com sorte, destruirá todos os equívocos. O estudante terá a árdua tarefa de, ele próprio, aplicar a fórmula na prática, mas ao menos terá com isso uma boa base do conhecimento fundamental.

Se alguém se torna versado nos livros de Srila Prabhupada, é menos provável que se desvie. Deve-se estudar os shastras profundamente, tentar entender a filosofia da consciência de Krishna, e, amadurecendo sua compreensão das qualificações de um guru fidedígno, deve-se assim, escolher um guru que esteja a altura. “Antes de aceitar-se um guru deve-se ter plena consciência de qual é a posição do mestre espiritual.” (Caitanya Caritamrta, Madhya 24.330)

Não devemos aceitar um orientador espiritual por mero sentimentalismo ou fanatismo cego. Emotividade e fanatismo cego não devem ser confundidos com devoção. Sri guru-carane rati ei sei uttama gati: O apego ao guru não é algo fácil. Isso de desenvolve através do cultivo. É claro que esse desenvolvimento não se dará apenas de acordo com a rendição devocional do discípulo, mas também de acordo com a validade do destinatário. A fé genuína do discípulo, tem a chance de crescer na medida que o guru for verdadeiramente qualificado para representar o Senhor e a sucessão discipular.

Ele deve escolher alguém em que deposite sua fé plena e que seja inteiramente competente em conectá-lo à Krishna através de suas instruções, comportamento pessoal e realização. A fé artificial não pode durar muito tempo, pois é fundada em bases falsas, que podem facilmente serem abaladas.

Todo guru deve ser adorado pelo cantar do Guruastakam?

Fé e adoração se dão de acordo com o grau de validade do objeto de adoração, e não de acordo com tradição ritualística. Podem surgir muitos argumentos pragmáticos a esse respeito, mas nem por isso devemos distorcer a filosofia. Nada deve se interpôr aos ensinamentos dos acharyas. Todos os livros de Srila Prabhupada dizem a mesma coisa quanto às qualificações do guru fidedígno.

Sendo corretamente intruidos, e já tendo tomado iniciação, não há motivo para sentirmos pânico ao ver algo indevido no guru. Não é que, em nome de seu bem estar, o discípulo deve ser treinado para enxergar alguém como absoluto mesmo sem sê-lo. Srila Prabhupada sempre foi contrário à fé cega. Não temos o costume de dizer que religião sem filosofia é sentimentalismo ou fanatismo? Portanto, ao ver algo de errado no guru, devemos abordá-lo com grande humildade, e abrir o coração, dar vazão às dúvidas e, se necessário, até mesmo pedir permissão para ir à procura de alguém mais avançado para obter siksha.

Tradicionalmente, não se rejeita um guru, por sua falta de conhecimento ou de avanço espiritual. O método vaishnava consiste em buscar um siksha guru. A rejeição só é pertinente em casos de queda, ou inveja dos vaishnavas superiores por parte do guru em questão. Se uma pessoa for bem instruída e informada e seu suposto “guru”cair, o trauma será menor. O discípulo pode ponderar: “Tenho que admitir que quando o aceitei como guru, eu era um jovem tolo e por isso não consegui ter o discernimento correto. Também admito que não existe tal coisa como injustiça espiritual.

De alguma forma meu karma, minha falta de sinceridade, seriedade ou sukriti me fizeram merecer isso; mas que eu agora possa, portanto, orar sinceramente ao Senhor para que me envie Seu representante genuíno.”

Não é tanto uma questão de apontar aos devotos, quem são os devotos qualificados, quanto é uma questão de instruí-los sobre quais são as qualificações de um guru fidedígno, segundo as palavras dos shastras e de Srila Prabhupada. Devotos que possuam conhecimento refinado poderão fazer escolhas inteligentes, e não correrão tanto o risco de cometer um erro.

Um guru fidedígno não é artigo barato. Quantos havia na época de Srila Prabhupada? Um guru qualificado é auto-realizado, livre de anarthas e é capaz de levar seus discípulos ao Supremo. O termo “guru fidedígno”, não deve ser mal interpretado.O mestre espiritual deve ser auto-realizado, como descrevem os shastras. A menos que uma pessoa esteja firmemente estabelecida na plataforma de nistha, ela não é um guru no sentido pleno da palavra. Ele não pode e não deve ser visto como sakshad-hari. E nistha, que muitos equivocadamente confundem com a posição do pregador fixo padrão, não é algo fácil de se alcançar, se considerarmos que nistha está acima do estágio de anartha nivrtti ( fase de limpeza de todas as impurezas e qualidades indesejáveis no coração) e estudarmos profundamente quais são esses anarthas. É pela graça do Senhor que alguém consegue um guru fidedígno. Ter um guru é de absoluta necessidade. Ele deve sem um devoto puro e liberado.

Krishna fará o necessário para que uma pessoa encontre um guru assim, se ela for muito sincera e estiver ávida por um guru verdadeiro. Assim, um aspirante a discípulo deve tornar-se sincero e ávido para fazer essa súplica ao Senhor.

Também devemos estar cientes de que quando muitas pessoas falam de guru, elas não conhecem ou não levam em consideração o que é guru-tattva, e que há mestres espirituais de diversos níveis. O que se aplica ao Maha-bhagavata auto-realizado, não necessariamente se aplica à qualquer diksha guru. Por outro lado, temos de promover a fé se um guru é realmente qualificado, e não suprimí-la. Alguns discípulos podem ficar zelosos demais, mas isso pode ser tolerado (mat guru, sei jagat guru: o famoso complexo de discípulo). Todo discípulo pensa que seu guru é o melhor, e naturalmente tende a glorificá-lo.

É responsabilidade do próprio guru corrigir seus discípulos se, sob o pretexto de glorificá-lo, eles ofendem a outros. Iniciação não é brincadeira: não há pressa. A iniciação verdadeira se dá no coração, não é só um sacrifício de fogo formal (agni-hotra). A primeira iniciação (Harinama) na Gaudiya Matha não é considerada como diksha, e sim um estímulo, é como ser admitido numa escola. A verdadeira diksha é considerada a iniciação através dos gayatri mantras. Srila Prabhupada esperou por onze anos. O Hari-Bhakti-Vilasa recomenda estudo mútuo entre o guru e o aspirante a discípulo. Jiva Goswami aconselha-nos a não aceitar um guru só por convenção habitual. Uma pessoa deve esperar até que esteja 100% convencida, com fé plena de que esse guru é um representante puro de Deus que pode prover todas as necessidades transcendentais. Se você não tiver essa fé, não seja iniciado. Espere e observe. Como é recomendado no significado do verso 5 no Néctar da Instrução, não se contente com menos do que o melhor.

Não siga a lógica do rebanho de ovelhas. Pelo conhecimento do shastra, podemos ter uma idéia de que é qualificado, mas um devoto novo possui muito pouco desse conhecimento, então ele deve esperar e desenvolver tal conhecimento e experiência, não agindo com fé cega ou sentimentalismo, na ânsia de ter um nome novo e de ser como o resto de seus colegas.Grande cuidado e cautela devem ser exercitados. Todos os sinais de um guru completamente qualificado devem ser examinados minuciosamente. Deve-se ter muita cautela antes de aceitar alguém como guru. Há muitos pregadores dedicados e sinceros, mas isso não os qualifica saksad-hari. Se alguém faz votos prematuramente, há o risco de perder a fé e cometer ofensas . É razoável esperar, e amadurecer um pouco, antes de fazer votos que muitas pessoas já provaram serem incapazes de cumprir.

Sobre O Serviço Devocional Puro:

Anyabhilasita-sunyam, serviço prestado sem outra motivação além da satisfação de Krsna, sarvopadhi vinirmuktam, livre de todas as falsas denominações, é serviço puro. O guru precisa ser um devoto puro, isso está em todos os shastras. As qualificações (adhikaras) vão de acordo com a elegibilidade para a prática do serviço devocional puro. Quão estrito ou puro alguém pode ser, se ainda há desejos materiais em sua mente? É dito que o serviço puro sem mistura com karma ou jnana começa realmente no estágio de nistha-completa. Para alcaçar a plataforma do serviço devocional puro, uma pessoa tem de se tornar espiritualmente pura, e atingir a plataforma de brahma-bhuta.” (CC Madhya 24.111) e “Aquele que está livre do conceito corpóreo de vida é elegível para o serviço devocional.” (Néctar Devotion p32) e ” Devotos puros são de dois tipos. Os associados pessoais, parisads, devotos de fato, e os neófitos, sadhakas, futuros devotos.

Servidores perfeitos do Senhor são considerados associados pessoais, enquanto devotos que estão se empenhando para alcançar a perfeição, são chamados de neófitos.” (CC Adi 1.64) Não é que alguém que faça muito serviço , seja por isso automaticamente considerado devoto puro. A fé determina o adhikara para se praticar bhakti pura. Assim sendo, aqueles que possuem fé mais forte serão considerados mais elegíveis do que aqueles cuja fé é komala, ainda frágil. Fé, aqui, não significa crença. Ela é definida como a firme convicção de que Krishna-bhakti cumprirá todos os deveres, satisfará a todas as necessidades e desejos. Devido à presença dessa convicção existir nele, mas não de forma absoluta, o kanistha-adhikari é orientado a não tornar-se diksa guru, para que não desenvolva fé nas sutis propostas de Maya sobre felicidade através da aquisição de seguidores.

Fé firme, ou paramarthika sraddha, só surge depois que os anarthas se forem por completo, o que se traduz no estágio de nistha. Até chegar à nistha, se é um kanistha. Sujeita aos modos da natureza, uma pessoa se identifica com o corpo e tem vontade de desfrutar daquilo que na verdade pertence a Krishna. A não ser que seja livre dos três gunas, a pessoa é impelida a ter inveja, nem que seja só um pouco. Portanto, não se deve virar guru a menos que se seja uma alma liberada, do contrário manifestará essa inveja sob a forma de uma identificação inconsciente com sua posição de orientador espiritual e vontade de desfrutar disso.

Por conseguinte, ele ficará um tanto apegado à pratistha e desejará desfrutar da fama pertencente a Krishna ou ao Seu representante genuíno. Atraído por nome e fama, presumirá que os outros são como ele também (atmavan many ate jagaf) e assim, numa atitude de competição, se arriscará a ofender Vaisnavas muito mais qualificados.

b) Ele Deve Orar a Krishna Para Que Ele o Envie um Guru Auto-Realizado.

O clamor sincero de alguém a Krishna, pedindo para que Ele, misericordiosamente, apareça sob a forma de um mestre espiritual auto-realizado, é nossa única opção. O Senhor Se revela para o estudante sincero, sob a forma de um professor que possa resgatá-lo. No livro Ciência da da Auto-Realização, Srila Prabhupada respondeu à uma pergunta a esse respeito:

Sr. O’Grady: “O problema, então, é encontrar um mestre espiritual [fidedígno]?!”

Srila Prabhupada: “Esse não é o problema. O problema é você ser sincero. Você tem problemas, mas Deus está dentro do seu coração…Se você for sincero, Deus lhe mandará um mestre espiritual”

Então, devemos estudar guru-tattva, sermos sinceros, e sobretudo chorar perante o Senhor, admitindo nossa cegueira. É preciso depender completamente de Krishna, para que Ele nos inspire de dentro do coração a reconhecer um guru verdadeiro. Se o aspirante a discípulo acha que pode reconhecer um guru verdadeiro, ele pode muito bem se enganar. “Você tem de selecionar um guru, não por ver, mas por escutar, ouvindo-o.” (Aula 8.12.66) E você sentirá atração espontânea em seu coração, a confirmação interna de Krishna. Um dos sintomas de um guru fidedígno é que ele pode destruir todas as dúvidas.

Devemos aprender sobre quem é o guru e simultaneamente orar a Krishna para que Ele envie Seu representante. Ele pode, no começo, testar sua determinação e não lhe mandar um guru imediatamente. E então Ele pode testar a profundidade de seu desejo, enviando-lhe um tipo qualquer de guru. Se você aceitar o primeiro sem discriminar, Krishna pode deixar as coisas assim. Mas se você chorar: “Ó não, Krishna, eu quero um de verdade, e não apenas um bom devoto. Eu quero um oceano de misericórdia, uma kalpa-vriksa, um que nem o dos livros!”, então Krishna lhe enviará um mahabhaqavata que será totalmente qualificado, livre de inveja e pratistha, e que poderá suprir todas as suas necessidades transcendentais. Um devoto não iniciado deve esperar até que sua fé esteja a 100% . Os recém-chegados, ou aqueles que precisam de re-iniciação não devem ter pressa em aceitar qualquer um como guru, mas sim, construir sua fé . Isso não e algo trivial, não se pode ter pressa ou tentar indentificar o guru com algum medidor. A corrente de pensamento dominante neste mundo não pode atingir Sri Guru, pois ele é muito pesado para ela.

Ele tem sido capaz de mantê-la há inúmeras milhas de distância. Esse é o guru, ou, o objeto mais pesado, pois sua posição não se altera.” (Srila Sarasvati Thakura) É dito, que assim como o mestre espiritual há de sofrer por aceitar pessoas pessoas inaptas como discípulos, se um discípulo aceita um guru desqualificado, ele sofrerá também. É motivo de grande ansiedade e tristeza, ver o próprio mestre espiritual cair. Então, com o intuito de evitar tal infortúnio, deve-se ter muita cautela. Uma pessoa só pode ser aceita como guru, se através dela for possível obter Krishna praticando o processo da rendição. “Você tem de encontrar essa pessoa muito elevada, a quem você possa se render voluntariamente.” (Aula 22.8.73) E: “Você deve verificar se ele é mesmo um guru. Isso é permitido. Guru e sisya devem conviver por um ano. Ouvindo e observando, o sisya estudará a possibilidade desta pessoa ser qualificada para se tornar seu guru ou não… (e vice-versa). De início, estude o guru, descubra se você pode ou não se render a ele. Não aceite um guru, assim do nada, como um fanático. A aceitação de um guru deve ocorrer após cuidadosa observação… É necessário selecionar um guru cujas ordens não levarão ao erro… Se você aceitar a pessoa errada como seu guru, e ele te orientar indevidamente, sua vida estará arruinada.

Então, é preciso aceitar um guru cuja orientação fará a nossa vida prefeita… O discípulo deve se assegurar de que o guru é capaz de suprir todas as necessidades transcendentais.” (CC Madhya 24.330) “Antes que o estudante aceite um guru, ele deve observá-lo por um ano. Sem observação mútua, o relacionamento professor-aluno, é só uma perturbação. O estudante seriamente questionador deve abordar um guru que tenha alcançado fé e abrigo nos Vedas e em Deus, e então render-se a ele: tasmad gurum prapadyeta. (PancaSamskara, Bhaktivinoda Thakura) Não se deve receber diksha sem ter fé de que o guru em questão detém o poder de levá-lo até Krishna, e possui todas as qualificações exigidas de sad-guru.

Até que haja fé, deve-se aceitar siksha, estudar guru-tattva e os livros de Srila Prabhupada, e não ficar pensando, de forma sentimentalista, que tudo o que se lê sobre Sri Guru se aplica automaticamente ao próprio guru ou a qualquer guru. Ao mesmo tempo, como supramencionado, deve-se depender completamente da inspiração dada por Krishna, e não pensar queatravés do próprio poder se pode reconhecer Sri Guru.

c) É necessário qualificar-se para ser um discípulo de verdade.

Tanto está sendo falado sobre as qualificações do guru , mas e quanto as qualificações do discípulo? Uma pessoa deve certificar-se de obter o melhor tipo de guru possível, mas também deve se esmerar em ser, ela própria, um discípulo qualificado. Assim que se encontrar um destinatário adequado para a fé e rendição, a rendição a ele deve ser completa, não condicional, parcial, ou artificial. A Gita diz pranipat, aproxime-se do guru com muita humildade. Devemos estar inteiros nessa aproximação. Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati alertava: ” Não vá até o guru com uma passagem de volta para a vida material no bolso.”

Quando o discípulo se rende completamente, a um mestre autorizado, no momento da diksha, ele obtém a misericórdia deste sadhu, e Krishna o aceita como seu servo. Pela misericórdia de um Vaisnava autêntico consegue-se todo a perfeição. Mas é preciso tirar proveito dessa misericórdia abrindo-se para ela, e não abrir um guarda-chuva de apegos materiais. Os Vaisnavas são patita-pavana, os salvadores dos caídos, não kapatya-pavana, salvadores dos fingidos. O amor por Deus se manifestará se você praticar sadhana, o cultivo, e se você permitir que o guru cultive seu coração para transformá-lo em terra fértil. O Vaisnava-guru dotado de poder, joga para você uma corda vinda lá de cima, para tirá-lo da teia de Maya, resgatá-lo da prisão de Durga. Você tem que segurar essa corda com muita firmeza, sem fraquejar, e assim obterá misericórdia. Não siga o caminho da independência.

Pessoas independentes não querem se render, elas querem instruir o guru; elas querem que o guru confirme tudo o que elas digam. Elas não conseguem segurar a corda e serem salvas. Elas querem um serviço que dê satisfação a si próprias, e não a guru e Gauranga. Elas escolhem como vão servir: “Esse serviço não é bom para mim, não o quero.” Deve-se chorar por serviço. O serviço é concedido, não escolhido. Se você escolher, não será serviço, será manodharma. Devemos implorar ao guru para recebermos aquele serviço que dará satisfação a Krishna. O serviço se destina ao prazer o mestre e não do servo. Mas é claro que se o mestre está satisfeito, o servo também estará. O discípulo não deve fraquejar na fé de que seus melhores interesses estão representados em seu mestre.

O servo que apenas quer a própria felicidade e não chora por serviço, está se qualificando para ser enganado. Ter um guru verdadeiro não é o suficiente. Devemos ser discípulos de verdade: Sad-guru, sad-sisya. Devemos estar prontos para passar por todas as tribulações e todos os testes, para provar que estamos curados da doença do desfrute egoísta. Assim Krishna ouvirá nossas preces, e concederá Sua misericórdia. Então, guru-anugati bhajan. Não podemos prestar serviço caprichosamente. Temos de servir sob a direção do guru. Devemos desenvolver um forte vínculo afetivo com o mestre espiritual. Krishna diz que fica muitíssimo satisfeito com aquele que está sempre empenhado em tentar servir o guru com amor e afeto. Um discípulo autêntico pensa que Krishna, misericordiosamente, o colocou nas mãos de Seu querido servo, que sabe o que lhe fará bem e que se importa com o bem estar do discípulo mais do que o próprio discípulo. Ele vê tudo como parafernália de serviço a guru e Krishna: “Tudo pertence a meu guru e a Krishna.

Tudo o que existe é destinado ao seu serviço, não devo desenvolver luxúria ou ganância por nada dele.” O discípulo deve pensar que não tem amigo melhor nesse mundo do que seu guru. “Eu sou seu servo, ele é meu mestre. É meu melhor amigo, pai e parente. Ele é meu pai e é minha mãe. Ele é o amigo querido de Krishna e deve ser servido vida após vida.” Um discípulo desses pode entender todos os tattvas, ele obtém toda auspiciosidade e toda a misericórdia, em doses graduiais, até alcançar a elevação máxima na perfeição suprema do amor por Deus. Os pés de lótus de um sad-guru verdadeiro devem ser servidos dessa maneira. A poeira dos pés de tal guru é tão poderosa, que pode subir ao mundo espiritual.

Portanto, oramos para que possamos nos tornar uma partícula de poeira aos pés de lótus de um Vaisnava puro. Não podemos ser admitidos na escola de hari- bhajan, serviço devocional a Krsna , sem desenvolver as qualidades descritas no verso trinad api sunicena. Mahaprabhu deu esta fórmula. Você não traduzirá diksa para uma vida de bhajan sem essas qualidades."

(texto extraído do www.bhaktibrasil.com)

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